31.12.14

Season Finale VIII

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No ano retrasado me desencontrei. No ano passado fiquei comigo. E neste ano...

E no espelho encontrei algo que não esperava encontrar... Encontrei eu mesmo. Assustado, estarrecido, cansado. Não conseguia desviar do meu próprio olhar. Posso me ouvir preso atrás do espelho. Um doppelganger respirando pesadamente em fúria. Se fizer silêncio consegue ouvir o monstro respirar.

No começo fui levado ao encanto do olhar monstruoso. Queria ir de encontro a ele e deixar ser dominado. Tive noites extremas num mar de bebidas. Noites acordadas entre bares – tentar esquecer a pressão dos dias. Mas o monstro não queria dominar. Ele queria coexistir. Ele quer. Por que tudo é tão nebuloso?

Reinamos juntos neste ano. Como um Rei de Copas: emocionalmente endurecido, dores privadas, emocionalmente indisponível, perdido no amor (dos outros e no próprio), emocionalmente arrogante, excessivamente emocional.

Este Rei pode ter seus sentimentos tão difíceis que ele os esconde. Até dele mesmo. Melódico, é um antagonista. Uma paranoia sussurrando para mim; uma voz atrás da minha cabeça me dizendo que as coisas não vão funcionar, fazendo decisões dolorosas e egoístas. E eu somente encarava do outro lado do espelho. Sou o diretor observando o ensaio.

E a Roda da Fortuna e seus pentáculos nos lembra que mudanças são inevitáveis. Não importa como as coisas são agora, elas não vão ficar assim para sempre. Mais do que nunca, preciso me adaptar.

Não temos sempre o controle sobre o que a vida coloca no nosso caminho, mas podemos decidir como nós respondemos a isso. Precisamos ser flexíveis e adaptarmos, irmos com a correnteza. Seja ela o acaso ou o destino.

Como um malabarista, na vida precisamos as vezes manter mais de uma bola no ar. Nada parece certo e ficamos incapazes de imaginar melhores possibilidades para nosso futuro. A vida é muito estranha...

E cansamos de tudo e nos deitamos neste campo vazio para não fazer nada e esperar quando tudo for maravilhoso – festejar numa parada – uma bela desculpa para celebrar a bagunça que fizemos.

E eu posso sentir a diferença quando o dia começa, “este vai ser o ano em que venceremos” e começamos novamente, antes das lembranças das bagunças que fizemos.

Memórias se apagam e histórias podem mudar, mas são reais se vistas em fotografias. Vendo somente o que eu sinto. E parando o tempo das pessoas que não conheço. Deixando elas em preto e branco. Tristes, felizes, cansadas, sonhadoras, alegres. Se tivesse um som seria a batida de uma bateria. Meu coração é uma bateria, marcando o tempo com todo mundo.

Descobri que os desejos são fantasmas do passado. Desejos que precisam de muito para sobreviverem. Mas os meus morreram. E outros vão nascer.

Nascer nesta que é a minha arte de cair constantemente. E levantar (ou tentar pelo menos). E ficar quieto. E observar. Bom dia, boa tarde e boa noite do meu lado mais analógico (monstruoso). As coisas menos importantes são mais fáceis de serem ditas. Fácil como veio, fácil como foi. Ocasionando entre o orgânico e o mecânico, entre o ligado e o desligado, entre os parasitas e os acolhedores, ocasionando entre os rostos que nos importamos, entre danças inacabadas. E se elas não tem fim, torcemos para que tudo isso termine logo, pois pensar em algo diferente que eu não sei o que é, é cansativo. Se você acha que está indo bem, como pode ter tanta certeza? Não é difícil, apenas frágil. Em sua própria maneira estranha. Nunca sei da minha própria força - apenas carregado pelas pessoas ao meu redor. Não sei de onde vem, só sei que por um minuto me perdi. Misturo texturas, batidas, passado, presente e deixo o futuro incerto.

Sou banhado por uma luz azul. Uma penumbra índigo em cima de um palco. E os espectadores querem ouvir apenas uma única palavra. As vezes tudo que precisamos falar pode ser dito com apenas uma palavra. Ou as vezes precisamos de muita música. Retrogrado, lágrima, esquecer? Pontes, café, tremor, lembrança, prelúdio? E amanha você pode cantar no paraíso. Numa primavera sem flores, num outono sem folhas, num inverno sem chuvas, num verão sem o sol. E são adaptações. Fico surpreso em como o fogo transforma a nicotina em fumaça para que seja preenchida nos meus pulmões o que depois vai virar um câncer. E no final, não importa se você se queimar ou desaparecer. O importante é se transformar em algo. E eu preciso me transformar em algo que eu preciso.

Mas tudo está oculto nas razões. Mesmo se permanecer em silêncio é preciso ouvir a última chamada, mesmo que seja um grito ou um sussurro. Eu mesmo vou dizer, mesmo com medo de que tudo já tenha sido feito ou dito. Pois tudo que é externo não é nada mais do que um reflexo projetado pela máquina mental.

Só preciso do vento para soprar, do fogo para queimar, da água para lavar e da terra para assentar; com isso posso desaparecer por completo. Me sinto preparado.

Continua...

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